RIO - Facebook: 845 milhões de usuários ativos mensais, segundo a própria empresa, com 483 milhões ativos diariamente no site e 429 milhões ativos mensalmente nos celulares. Twitter: 350 milhões de tuiteiros, dos quais 100 milhões ativos. Google+: 90 milhões de adeptos. Mas serão, de fato, tão numerosos mesmo os perfis das redes sociais? Em alguns, de acordo com estudos recentes, o percentual de “amigos ou seguidores verdadeiros, ativos” não passa de 25% do total. Em tempos de ofertas públicas de ações e investimentos bilionários nas redes, saber exatamente quantas são essas pessoas é crucial para a qualidade dos negócios.Mas o que é mesmo um usuário ativo mensal? Exatamente o que o nome diz: um internauta que entra numa rede — atualmente a principal ferramenta de comunicação na internet — pelo menos uma vez por mês. Será isso representativo? Quantos usuários podem ser, de fato, considerados engajados numa rede social? A falta de transparência nas métricas empresariais torna a resposta a essa pergunta um tanto elusiva.
O Facebook deu uma pista que vem sendo explorada por analistas na internet ao estabelecer, na página 44 de sua documentação apresentada nos EUA para a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), também como usuários ativos mensais aqueles que, registrados na rede, “compartilharam conteúdo ou atividade através de sites de terceiros nos últimos 30 dias”. Zuckerberg e companhia dão a entender com tal asserção que, mesmo com uma conta pouco usada na rede, o usuário se torna ativo simplesmente por curtir algo de fora do ambiente facebookiano.
“Em outras palavras, toda vez que você aperta o botão Curtir no site da Liga Nacional de Futebol Americano, você é um ‘usuário ativo’. De repente você compartilhou um tweet em sua conta no Facebook? Novamente, é considerado um usuário ativo. O mesmo acontece se você se logar no ‘Washington Post’ usando suas credenciais no Facebook”, comentou Andrew Ross Sorvin no “New York Times”.
Redes diferentes, padrões diversos
Na última quarta-feira, em uma emenda de prospecto apresentada às autoridades regulatórias, o Facebook reconheceu que entre 5% e 6% de seus 845 milhões de usuários representam contas “duplicadas ou falsas”. Segundo o Facebook, menos de 5% de seus usuários ativos a cada dia resultam da operação de aplicativos móveis que contatam servidores do Facebook automaticamente sem que o usuário participe.
No caso da jovem rede social Google+, Kevin Kelly, ex-editor da “Wired”, um dia descobriu que tinha nada menos que 560 mil pessoas em seus Círculos. Espantado com o inflado número, retirou, com a ajuda de uma pesquisadora assistente, uma amostra estatística dos perfis de usuários contidos nos Círculos. Analisando cinco mil deles, encontrou 36% de perfis inativos, “nem sequer preenchidos”, 6% de spammers e apenas 30% de usuários realmente ativos.
E o Twitter? No ano passado, o jornalista Douglas Main, da revista “Popular Mechanics”, fez uma análise semelhante de seus 500 seguidores no Twitter. Segundo ele, 58% eram pessoas reais, e 22% empresas ou instituições genuínas, mas pelo menos 19% eram contas falsas ou spam. Para conferir, analisou os 500 seguidores mais recentes dos dois mil de seu colega John Herman. Desta vez, encontrou 48% tweets falsos ou spam, contra 24% de pessoas reais e 14% de empresas ou entidades verdadeiras. Outra pesquisa, feita em 2009 pela consultoria Sysomos, constatou que só 5% das contas no Twitter são responsáveis por 75% de toda a atividade na rede de microblogs.
Todos esses dados apontam para um risco inerente quando se pensa no boom econômico de investimentos nos ambientes sociais.
— Há nesse mercado das redes sociais uma falta de procedimento padrão para o que é considerado realmente valor — diz Roberto Cassano, diretor de Criação e Estratégia da Agência Frog, uma das responsáveis pelo projeto de social commerce Bee Social no Facebook. — Os indicadores de atividade variam muito de rede para rede e, nós, que investimos nelas, já encaramos essas discrepâncias como algo que faz parte do negócio. Para o Google+, por exemplo, não faz a menor diferença se o usuário nunca mais voltar lá. Para a Google, se ele entrar uma vez e preencher seu perfil, já forneceu dados preciosos para seu modelo de negócio com base nos anunciantes web e nas buscas patrocinadas. Se permanecer entrando e dando um “+1” de vez em quando, será um bônus para a gigante.
Já o Facebook, constata Cassano, procura mais o engajamento dos usuários, porque é de fato mais focado na dinâmica das relações sociais e, por isso, precisa ficar sempre atualizando seu ambiente (um exemplo é a Timeline, que recentemente chegou ao Facebook Pages, para perfis de empresas e instituições).
— O segredo para investir nas redes sociais é procurar se inteirar de como funciona a cabeça do “dono do botequim”, isto é, a empresa fundadora, para se adaptar melhor ao seu estilo — diz. — E nada de se deixar levar pelos grandes números, afinal nem todo mundo tem o potencial de entrar numa rede e ficar postando e criando o tempo inteiro. Há usuários inativos, que vão embora, sim, mas também há os passivos, que consomem conteúdo. O desafiante é engajá-los, tanto do ponto de vista da rede, quanto dos negócios dentro dela.
Bruno Magrani, professor e pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getulio Vargas, comenta que os números gigantescos das redes sociais também são decorrentes da forte competição entre as diferentes plataformas de mídia pela atenção dos usuários. Magrani cita uma pesquisa da consultoria inMobi feita com 20 mil usuários em 18 países, que aferiu o tempo gasto por eles em suas horas de lazer dividindo sua atenção em dispositivos diversos. Trinta e dois por cento do tempo era passado no PC, 27% no celular e 22% diante da TV.
— No PC e no celular, o tempo médio gasto no Google+ em janeiro foi de 3,3 minutos por mês (e isso baixou, pois em novembro, a média era de 5,1 minutos por mês). Já no Facebook, o tempo médio em janeiro foi de seis a sete horas de uso. Entretanto, é preciso lembrar que pesam nessa diferença abissal os jogos sociais na rede de Mark Zuckerberg — afirma Magrani.
‘Boom’ leva a amadurecimento
Tanto Magrani quanto Cassano acham que faz sentido o Facebook contar visitas por meio de sites de terceiros como atividade, dado o modelo de negócio de monitoramento intrínseco às mídias sociais. Não por acaso, a Google unificou suas políticas de privacidade para cruzar ainda mais dados dos usuários (o que pode ser um tiro no pé, porque a União Europeia já se manifestou contra a ideia).
Por outro lado, Kevin Kelly cita em seu estudo uma pesquisa da Peak Analytics que chegou à seguinte conclusão: quanto maior o número de seguidores ou contatos de alguém numa rede social, maior a chance de que esses seguidores ou “amigos” não representem uma conexão real, mas apenas uma “cifra”. Por exemplo, no ano passado pesquisadores da Universidade de Indiana examinaram o 1,3 milhão de seguidores do pré-candidato republicano Newt Gingrich no Twitter e constataram que 76% não tinham qualquer dado biográfico no perfil.
— No caso de políticos, é mesmo preocupante essa inflação de números nas redes sociais, e já há startups especializadas em monitorar esse tipo de perfil para verificar se os seguidores são reais — diz Pedro Barbosa, sócio da STK Capital, gestora carioca com R$ 350 milhões em ativos. — Mas, quanto à questão das métricas de usuários, o mercado hoje está muito mais maduro que na época da bolha da internet, no fim dos anos 90. No caso específico do Facebook, há fatores extras que atraem as empresas, como a parceira Zynga (12% do faturamento da rede vem só dela) e a presença de investidores de fundos de venture capital conhecidos por sua solidez e que não entram num negócio só com vistas a um IPO, mas procuram ajudá-lo a crescer e se firmar.
— O Facebook, com a plataforma OpenGraph, permite que você crie um ambiente para seu negócio lá dentro — dizem Hélio Lemos e Eduardo Rodrigues, respectivamente diretores de tecnologia e informação do site de buscas de imóveis e carros Fisgo. — O Google+, porém, ainda não permite essa personalização. Além disso, vem sendo chamado de “rede fantasma”, pois tem 90 milhões de usuários, mas aparentemente ninguém vai lá.
Procurada pelo GLOBO, a Google afirmou que, dos 90 milhões de usuários do Google+, 80% são usuários ativos semanalmente, e 60%, ativos diariamente. Já o Facebook informou que os perfis inativos da rede não são divulgados, e que não comentaria o texto do IPO por estar em período de silêncio sobre a oferta pública de ações.
O Twitter diz em sua Central de Ajuda que, para manter um perfil ativo, o usuário não deve se esquecer de “entrar na conta e postar uma atualização no prazo de seis meses, contados a partir de sua última atualização. Contas poderão ser removidas devido a inatividade prolongada”.
A rede de microblogs diz que a inatividade em seus perfis é “baseada em uma combinação de entrar na conta, tuitar e a data em que uma conta foi criada”. O próprio blog oficial do Twitter, ao anunciar a chegada a 100 milhões de usuários ativos, no fim do terceiro trimestre, postou que “para muitos, obter o máximo do Twitter não é só tuitar: 40% de nossos usuários ativos se logam simplesmente para ouvir o que está acontecendo em seu mundo”.